Muita
gente se assusta quando ouve dizer que as escolas particulares não são
melhores que as públicas. Outro dia eu disse isso em um programa de TV e
choveram comentários questionando minha sanidade!
É difícil acreditar, pois é uma afirmação que se choca com uma percepção generalizada e com uma informação correta:
percepção: estamos acostumados a achar que o que é pago é melhor do que o que é público;
informação: na média, os resultados finais das escolas privadas são melhores que o das públicas.
Então, como dizer que a escola privada não é melhor que a pública, se
ela tem os melhores resultados? É só ver os rankings do Enem, certo?
Não. Por isso combatemos tanto os rankings de resultados. Em seguida, apresento dois fatos para justificar isso:
Fato número 1: as médias das escolas nas avaliações de aprendizagem –
que, por sua vez, são decorrentes dos resultados (desiguais) de seus
alunos – são uma combinação de vários fatores, mas especialmente de
dois:
do que os alunos aprenderam fora da escola; e
da capacidade de a escola adicionar novas aprendizagens.
Coloco aqui, na palavra aprendizagem, conteúdos, habilidades e,
portanto, as competências dos alunos. Ou seja, que fatos e informações
eles conhecem, de que forma usam essas informações em contexto, sendo
assim competentes em algumas áreas (leitura, matemática, etc.).
Vocês sabem quanto representa cada um desses pontos acima na nota final de um aluno?
Há evidências na literatura da Educação que apontam que metade do
resultado do aluno em testes é formado pelo seu aprendizado fora da
escola, e outra metade, pelo que a escola acrescenta ao seu
conhecimento. Há estudos que mostram até que a proporção é de 2/3 e 1/3,
respectivamente.
Mas vamos ficar aqui com a estimativa mais conservadora, de meio a meio, e partir para o segundo fato:
Fato número 2: quanto maior a renda da família, maiores as
oportunidades de as crianças e jovens aprenderem fora da escola, pois
têm maior possibilidade de acesso a bens culturais, livros, tecnologia,
etc.
E voilá!! Como as escolas privadas recebem, em geral, alunos de maior
renda, que já partem de um patamar de aprendizagens mais alto,
conseguem chegar a um resultado consequentemente melhor.
Da mesma forma, as escolas públicas, que atendem em geral alunos com
renda mais baixa e aqueles historicamente mais excluídos, partem de um
patamar mais baixo. E acabam por ter um resultado final menor.
Há escolas públicas que adicionam a mesma aprendizagem ou até mais do
que as privadas, mas, ainda assim os resultados são menores, porque o
ponto de partida é diferente.
Por isso, temos que parar de estigmatizar a escola pública com o rótulo de pior que a particular.
Precisamos apoiar as famílias dos 40 milhões de alunos da escola
pública (que são mais de 80% do total de estudantes da Educação Básica)
com oportunidades educativas além da escola, como mais acesso a bens
culturais, a leitura e a novos repertórios de conhecimento. Essa é uma
frente que não podemos ignorar para avançarmos na qualidade da educação
pública do País.
E é claro que o poder público tem um papel importantíssimo para isso,
mas todos nós também podemos contribuir no nosso dia a dia. Como? Esse
papo rende outro texto. Até a próxima!
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*Priscila Cruz é fundadora e presidente-executiva do movimento Todos
Pela Educação. Graduada em Administração (FGV) e Direito (USP), mestre
em Administração Pública (Harvard Kennedy School), foi coordenadora do
ano do voluntariado no Brasil e do Instituto Faça Parte, que ajudou a
fundar.
http://blog.andi.org.br/
Blog Ponto Critico